terça-feira, 30 de junho de 2015

Opará

"Acreditar que o mundo do invisível é o mundo real. 
Este aqui, que os olhos que a terra há de comer veem, este é ilusão.
Acreditar que alguém lá em cima gosta da gente, das flores, dos animais, das águas e das montanhas.
Ter fé em que a chuva vai chegar, o rio vai encher e o amor vai prevalecer."

- Patricia Pacini


Uma professora de história vem colher as memórias dos seresteiros que cantam às margens do São Francisco. Mergulha nas águas do velho rio e descobre seus mistérios, encantos, mitos e poentes. 
Descobre que os seresteiros ainda cantam o amor. Mas é canto de voz embargada pela tristeza de quem pressente e teme a morte do rio-mar.
Ano depois a gente se reencontra pra assistir o documentário* que reúne as histórias dos seresteiros e lança um grito pedindo pela vida do rio. Na noite fria essa gente se reúne pra se aquecer em torno desse registro quente sobre pessoas e sobre um velho rio que passa diante de nós e dentro da noite.
Obrigado Patrícia Pacini por fotografar com delicadeza esse momento da história da seresta, da gente e do rio. O documentário e o livro revelam uma verdade incontestável: tudo isso é uma coisa só. Se morre o rio, morre a gente, morre o canto do seresteiro. 




"São Romão fica bonita:
Festa de São Benedito
Congado a Nossa Senhora
É lá que se pesca o mandim,
O dourado e o surubim
Pra vender em Pirapora"

- Isaías Pereira Mourão



 

Êh, lá vai o Gaiola
Carregando em sua bagagem
Esperança e nostalgia
Sai de Pirapora
Seu destino é Juazeiro da Bahia

Sai do porto devagar
Pra saudade aumentar
Leva seu João e Maria
Junto com a mercadoria 
Que vai para o Ceará

- Josessé Santos


"Boa noite!
Diga ao menos "boa noite"
abra ao menos a janela
hoje eu canto é pra você

Querida,
abra a janela, meu bem
A serenata que eu faço
é pra você e mais ninguém" 

Música conhecida por grande parte dos seresteiros em todo o Brasil
_________________________

Sarau Seresteiro
A gente se reúne pra celebrar e agradecer. A música e a poesia servem pra aquecer o frio.
" ... a maltratada e rústica embarcação é o transporte de todo dia dessa gente - é o ônibus, o trem, o táxi, o burro, o carro, de motor ou de boi -, que a leva para casa singrando as águas do Velho Chico sob o divino e maravilhoso ocaso. O barquinho simples leva essa gente para casa depois da labuta do dia..." 
(Patrícia Pacini - Opará - cantos, contos e encantos do Rio São Francisco)

Grupo Amigos Seresteiros de Pirapora e Clube Literário Tamboril

Humildade

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.


(Cora Coralina)


JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?


(Carlos Drummond de Andrade)

* o documentário "Seresteiros do Rio São Francisco" e o livro "Opará - cantos, contos e encantos do Rio São Francisco" são resultados do projeto Seresteiros do Rio São Francisco

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Não são as respostas que movem o mundo

"Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas" (Albert Einstein)

A última semana foi de questionamentos para o Clube Literário Tamboril:

- Afinal o que é o Clube? O que queremos que seja de agora em diante? Qual o nosso papel na comunidade?

Essas e outras perguntas que fizemos a nós próprios no nosso último encontro estão ainda ecoando no ar... tentaremos construir significados, continuamente. Isso é bom.
- O que é a literatura barranqueira? Existe uma literatura barranqueira? Quem produz essa literatura? A quem ela interessa?

Outras questões encheram o ar de interrogações. Dessa vez o ambiente foi uma sala de aula. Um varal com textos de escritores do Clube e outros, todos barranqueiros.
Os alunos degustando, descobrindo, se encantando. Interessados em saber mais sobre esse povo barranqueiro que escreve o que sente, o que pensa, o que vê, o que advinha, o que vive ou sonha.
Alguns de nós, do Clube, no meio da roda de conversa, ou roda de poesias, ou roda de perguntas e descobertas, nos permitimos, juntamente com esses jovens, questionar o quanto há em comum entre uns ou outros escritores barranqueiros (?) ou o que cada escritor acrescenta a esse universo que é a cultura ribeirinha do São Francisco.

Sabe o porquê destes questionamentos todos? Bem, para essa pergunta tivemos uma resposta definitiva:
- "Nós precisamos nos conhecer!", disse uma aluna durante a roda de conversa.

Precisamos nos conhecer.