domingo, 6 de março de 2016

Geloteca Clube Literário Tamboril

Foi lindo o dia da inauguração da primeira Geloteca do Clube.
A muitos causou estranhamento ver uma "duplex" colorida na praça. Olhavam, rodeavam, vieram ver. A curiosidade foi o ponto de partida para o encontro com os livros do nosso acervo. 
Todo sábado terá empréstimo descomplicado na Feira de Artesanato.
O clima de festa que recepcionou os leitores e curiosos ficou completo com a chegada dos violeiros João Batista, Carlos e Divino. A roda de prosa e poesia comandada por estes artistas populares foi mais um presente para o Clube.

Desabafo de um rio, o Velho Chico e seus afluentes
(João Batista)

Se eu fico no meu leito, me chamam de doente,
mas seu saio pra fora, me chamam de invasor.
E se eu bato nas pedras, me chamam de maldoso.
Mas quero desabafar: eu bato nas pedras porque estão no meu caminho
e já bati tanto nas pedras que elas formaram uma gruta para o Bom Jesus.
Os peixes, aqueles cardumes, Mandim Amarelo, Tucunaré, Matrinchã, Piau, peixe Dourado e peixe Pintado
viajam no meu leito, mas não me pagam passagens,
dormem em minhas encostas, mas não me dão hospedagem,
sobem para as minhas cabeceiras, desovam, procriam, mas não me dão um afilhado sequer
E é por isso que eu choro quando estou na minha cabeceira, para o homem não ver.
Porque para o homem lágrimas são águas, mas para o rio não, lágrimas são lágrimas que vão com as águas.
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Todos os dias eu vou até a cachoeira do Velho Chico perguntar: qual é o segredo de correr todos os dias? Será, Velho Chico, que você é um rio diferente, que fala como gente?
Olhando aqui da orla, é que se vê quantas magias que se fazem acontecer, mesmo antes do dia amanhecer.
Ah, mas eu ouvi dizer em uma conversa, Velho Chico, lá no pau do Tamboril, conversa de pescador,
diz que lá no meio da corredeira, bem no centro da cachoeira, tem um lugar chamado caixão, se contar da Ponte de Ferro, tá no meio do sétimo vão. Responde, Velho Chico, é sim? ou não?
Ou aquilo são pedras furadas por águas passadas que guardam um segredo do fundo da alma?
A natureza é caprichosa, e sempre através do rio ela manda o seu recado.
Veja as margens do Velho Chico, árvores secas, frutos que não deram, chuvas que não vieram e peixes que se desesperam.
Águas que já foram, águas que passam, águas que vêm, saudade que não passa, desejo que não vem, tristeza que passa.


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