segunda-feira, 28 de março de 2016

Rádiopoesia


Cada vez que a gente entra no estúdio pra fazer um sarau somos sempre surpreendidos pela quantidade de pessoas que ainda ouvem rádio. Que ligam para deixar algum recado pra gente.

Tantas formas de interagir, de comunicar e de escoar a poesia, que a gente corre o risco de deixar passar despercebido o impacto que o rádio tem como meio de nos aproximar dos leitores/ouvintes. 

Só que agora já nos apegamos a essa modalidade de sarau. O Sarau Radiofônico veio pra ficar. 

Essa semana o sarau aconteceu na Rádio Pirapora AM, no programa do Rogério Carlos, como de costume.


A novidade foi que somente as vozes das mulheres foram ouvidas durante quase toda a programação. 

As integrantes do Clube e suas convidadas tomaram a palavra para falar sobre a questão da mulher e sobre empoderamento. 

Como não poderia deixar de ser, a 'prosa' entre as participantes do sarau foi costurada por poemas e músicas.

"Quando a gente trabalha a expressão da mulher a partir da arte, desperta uma potencialidade que a mulher, muitas vezes, nem imagina que tem"

Kênia Barros (arte-educadora diretora do Centro de Referência da Mulher)
"A beleza que habita nosso peito vem de dentro para fora e ela pura, não combina com inveja ou amargura, muito menos com a palavra preconceito. Gente burra é que tem esse defeito, falha que vem na estrutura, isso é coisa de gente sem cultura. E o mundo inteiro agora viu que as mulheres mais bonitas do Brasil comem ovo, feijão e rapadura."
Bráulio Bessa (declamado por Elaine Ramos)
"Quando nos meus braços te estreito
querendo talvez não te deixar fugir
sinto que a vida salta do meu peito
como ave que para o céu quer partir

Que fizesse parar o mundo 
quisera eu pedir a Deus, quisera
e até o tempo que a tudo passa

que me desse a mais um só segundo
para eu viver minha terna quimera
antes que ela se torne fumaça"

Lúcia Sopas (declamado por Beatriz)



quarta-feira, 23 de março de 2016

Sarau Delas

Poque nem toda feiticeira é corcunda
nem toda brasileira é bunda
meu peito não é de silicone
sou mais macho que muito "home"
(Rita Lee)
A poesia rompeu a barra da manhã tímida do dia 05 de março, o sol quase sem querer raiar. Mais um sarau solar tomou conta da praça: sarau delas, pra elas. 
O Clube reverenciou a luta diária das mulheres pela igualdade de direitos e pela superação do machismo que inflige, ainda e violentamente, as mulheres.
O Clube reverenciou a arte e a história de vida das artistas que estiveram ali e das mulheres que, de uma forma ou de outra, abriram o caminho para que elas estivessem ali.
Priscila, 
Gabi, 
Malu, 
Zezé da Força, 
Charmene, 
Ana, 
Anízia, 
Lúcia,
Silvana,
Cinara e as "Baticundeiras",
Valelice,
Karol,
Janyny,
Beatriz,
Hellen,
Elaine,
Artesãs da Feira de Artesanato,
Mulheres do Café na Roça,
Mulheres do Centro de Referência da Mulher,
Mulheres da Melhor Idade,
todas, juntas na praça, formaram um mosaico de cores de matizes variadas e texturas diversas. E lindo.
Dona Zezé da força deu seu recado homenageando as mulheres do Movimento Sem-Terra:

"Vem, teçamos a nossa liberdade

braços fortes que rasgam o chão
sob a sombra de nossa valentia
desfraldemos a nossa rebeldia

e plantemos nesta terra como irmãos!"
(Hino do Movimento Sem-Terra)
Gabi e Beatriz
Grupo Baticundum
Valdelice
Charmene

domingo, 6 de março de 2016

Geloteca Clube Literário Tamboril

Foi lindo o dia da inauguração da primeira Geloteca do Clube.
A muitos causou estranhamento ver uma "duplex" colorida na praça. Olhavam, rodeavam, vieram ver. A curiosidade foi o ponto de partida para o encontro com os livros do nosso acervo. 
Todo sábado terá empréstimo descomplicado na Feira de Artesanato.
O clima de festa que recepcionou os leitores e curiosos ficou completo com a chegada dos violeiros João Batista, Carlos e Divino. A roda de prosa e poesia comandada por estes artistas populares foi mais um presente para o Clube.

Desabafo de um rio, o Velho Chico e seus afluentes
(João Batista)

Se eu fico no meu leito, me chamam de doente,
mas seu saio pra fora, me chamam de invasor.
E se eu bato nas pedras, me chamam de maldoso.
Mas quero desabafar: eu bato nas pedras porque estão no meu caminho
e já bati tanto nas pedras que elas formaram uma gruta para o Bom Jesus.
Os peixes, aqueles cardumes, Mandim Amarelo, Tucunaré, Matrinchã, Piau, peixe Dourado e peixe Pintado
viajam no meu leito, mas não me pagam passagens,
dormem em minhas encostas, mas não me dão hospedagem,
sobem para as minhas cabeceiras, desovam, procriam, mas não me dão um afilhado sequer
E é por isso que eu choro quando estou na minha cabeceira, para o homem não ver.
Porque para o homem lágrimas são águas, mas para o rio não, lágrimas são lágrimas que vão com as águas.
................
Todos os dias eu vou até a cachoeira do Velho Chico perguntar: qual é o segredo de correr todos os dias? Será, Velho Chico, que você é um rio diferente, que fala como gente?
Olhando aqui da orla, é que se vê quantas magias que se fazem acontecer, mesmo antes do dia amanhecer.
Ah, mas eu ouvi dizer em uma conversa, Velho Chico, lá no pau do Tamboril, conversa de pescador,
diz que lá no meio da corredeira, bem no centro da cachoeira, tem um lugar chamado caixão, se contar da Ponte de Ferro, tá no meio do sétimo vão. Responde, Velho Chico, é sim? ou não?
Ou aquilo são pedras furadas por águas passadas que guardam um segredo do fundo da alma?
A natureza é caprichosa, e sempre através do rio ela manda o seu recado.
Veja as margens do Velho Chico, árvores secas, frutos que não deram, chuvas que não vieram e peixes que se desesperam.
Águas que já foram, águas que passam, águas que vêm, saudade que não passa, desejo que não vem, tristeza que passa.