sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Sobre protagonismos negros na literatura infantil


O Clube Literário Tamboril iniciou no mês de agosto de 2018 um novo projeto chamado Negra Ideia, com o intuito de dar visibilidade à literatura afro-brasileira e de promover o diálogo e a reflexão sobre situações relacionadas ao cotidiano de pessoas negras.
Assim que propusemos a ampliação do espaço para a discussão dessas temáticas na nossa Biblioteca Comunitária, juntaram-se ao time jovens também interessados em contribuir para a desconstrução de práticas racistas e preconceituosas em relação às pessoas de pele escura que se tornaram comuns, infelizmente.

Além de falar de literatura e arte, o grupo tem debatido sobre racismo, empoderamento, representatividade, lugar de fala, protagonismo, colorismo, racismo reverso, solidão da mulher negra, afrofuturismo, preconceito, intolerância, diversidade, desconstrução de estereótipos, literatura afrodescendente, enfim... assunto é o que não falta! (rs).
Percebemos o quanto há de solidariedade e vontade de atuar para a superação dessas questões. Um exemplo disso foi a doação que recebemos da Mazza Edições, editora que atua há quase 40 anos na produção e difusão de literatura afro-brasileira e conteúdos afins. 
Assim, que procuramos a editora, fomos recebidos de forma carinhosa e sentimo-nos fortalecidos para iniciar nossas ações, afinal, recebemos um apoio em forma de doação de um rico acervo de literatura infanto-juvenil. 
Esse acervo foi o ponto de partida para nossa primeira ação: um encontro com professoras negras da rede municipal de ensino de Pirapora com o objetivo de iniciar um projeto de representatividade na literatura infantil

Utilizando os livros, em que tanto os (as) protagonistas quanto os(as) autor(as) são negros(as), os educadores irão realizar múltiplas atividades com as crianças, a fim de promover a reflexão com os pequenos sobre questões complexas de maneira lúdica e aprazível.
Muitas ideias, fervilham na cabeça de todos nós nesse momento. Sempre nos incomodou a falta de diversidade e de representatividade na literatura infantil. Agora temos um acervo nas mãos que nos permite apresentar às crianças negras histórias com finais felizes, com reflexões, com protagonistas negros. Quanta falta fez a nós, participantes do projeto, ter contato com essa literatura na nossa infância.

A representatividade na literatura infantil, em especial para crianças negras, contribui para construção de suas identidades tornando-os indivíduos conscientes e empoderados. No período entre o nascimento e os seis anos de idade, as crianças estão no auge do seu aprendizado e todas as referências que têm acesso contribuem para a construção dos conceitos de família, sociedade, relações sociais, de si próprias e do mundo que as cercam. Autoestima, autoconfiança, autoimagem, são algumas das contribuições que podem legar o protagonismo negro na literatura infantil.
Alguns dos livros da Mazza Edições que serão utilizados no projeto
Diante de uma sociedade amplamente diversa como a brasileira, não tem fundamento que justifique somente determinado grupo social ser representado na literatura, tanto dos protagonistas das histórias, quanto dos escritores e ilustradores. O acesso à essa literatura diversificada contribui não só para as crianças negras mas também para as brancas na ampliação da visão de mundo e construção de uma realidade mutável. 

Chimamanda Adichie, autora nigeriana, ressaltou em uma entrevista no Ted Talks a importância da representatividade na literatura para que não  haja somente uma história que contemple os diferentes povos, culturas e lugares. Ela relata que quando criança os personagens dos livros que lia eram todos brancos de olhos azuis que viviam em lugares frios. Ao contrário da sua realidade, ela era negra e vivia em lugar quente.
Sabemos que, além da literatura os demais canais de comunicação devem estar pautados pela diversidade de vozes, culturas e  pessoas, buscando-se afastar a ideia de padronização das histórias, e construção de estereótipos. A gente tem que contribuir para alterar essa realidade: escrevendo e lendo literatura afro-brasileira, por exemplo. Nosso trabalho começa, por enquanto, apresentando a diversidade na literatura infanto-juvenil e dizendo todos os dias para nossas crianças: sejam protagonistas também! sejam autores de histórias lindas! 


O lugar da criança negra é como personagem principal, também!

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