segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Meditações sobre A NOITE


Minguante

Terça-feira
21:10
No veludo celeste
A noite ri
E a lua
(como um corte a laser)
Espalha-se em leite neon
Sobre o negrume
Do manto da noite.
(Rafael Oliveira, 2007)


Música

Shiiiii!
Ouve:
...
Um assovio,
um pio,
um pingo,
um ponto.
O som
da palavra
grifada
no livro
que nem
foi escrito.
O som
do que
não será dito.
A tensão de
cordas invisíveis
soando a melodia
surda
nos ouvidos moucos
dos que parecem
meio-mortos
meio-vivos.
O pulsar
tem a métrica
da música
do nada
que ecoa.
Ouve!
Talvez o silêncio seja a melodia mais rara.
(Rafael Oliveira, 29 de Agosto de 2014)

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Penteei o cabelo...

Penteei o cabelo, 
usei uma roupa bacana
e me vesti de alegria.
Você disse que viria
e eu continuei a te esperar.
Troquei a roupa, 
mudei o penteado 
mas eu ainda sorria...
As horas passam, 
você demora, 
mas a certeza não dá lugar para a dúvida.
As horas passam, 
você chega.
Que bom vê-la em minha casa!
Sua roupa não é das melhores, 

não se perfumou, 
não se penteou,
mas para o meu coração não importa, 

mesmo assim, na minha casa, ou melhor na porta,
cansada do serviço, 

suada, 
cabelo bagunçado...
É assim que eu te quero.
Sempre que você vir, eu estarei, 

com o cabelo penteado, 
usando a blusa que você gosta,
e com o meu sorriso estampado, 

vendo você ir 
e dizendo: Volte sempre.











Poema de Calyanne Gonçalves
Enviado ao Clube Literário em 29 de Julho de 2014

Utopia

UTOPIA
O melhores candidatos estão no pleito
Prometendo emprego, saúde e moradia,
Educação, segurança, honestidade,
Tratar pobre e rico igualmente-DEMAGOGIA !
Nos visitarão durante o todo o ano,
Serão amigos faça noite, faça dia,
Beberão conosco água de cisterna,
Comerão apenas arroz e feijão - HIPOCRISIA !
Não teremos censura pra coisas cultas
Desde que não relacione com essa orgia
Literatura, Teatro, dança, canto, artes plásticas
Terão apoio irrestrito como sempre- IRONIA !
Ah se tudo isso fosse verdade,
Viver seria a mais linda poesia...
Bateria honroso no peito e diria
Sim, sou brasileiro com orgulho – UTOPIA !




Poema do Professor Carlos Roberto Neves
(enviado ao Clube Literário Tamboril em 12 de setembro de 2014)

Esfinge

 ESFINGE

Eu não gosto de meias palavras..
Gosto de palavras inteiras.
Meios gestos...
Meias vontades...meias verdades...
Que se dane o autocontrole.
Quero mais é que vida transborde em mim em abundância.
Vivo pela última gota..por um fio de luz.
Será que já posso ficar louca, ou devo apenas sorrir???
Alguém disse isso uma vez.
Vou parar de seguir suas pistas.
Vou parar de tentar ler voce.
Tentar decifrar seu enigma de esfinge.
DECIFRA-ME OU DEVORO-TE.
Pode me devorar.






Poema de Silvana Dias
Enviado ao Clube Literário em 5 de Setembro, 2014

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Estado de Poesia

Estado de Poesia


Eu gostava tanto de escrever
Poesia!
Um verso sempre me fazia companhia
Cada vez que o coração sofria...
Hoje meu coração está em paz!
Quase não escrevo mais...
Hoje o amor mora em minha casa,
Almoça e janta comigo,
Dorme na minha cama,
Boceja um ‘Boa noite’,
Bafeja um ‘Bom dia’,
Abraça, sorri,
E só me traz alegria.
É dele a culpa de eu fazer
Menos versos do que antes eu faria.
Me acostumei a escrever
Só quando o coração sofria.
Hoje, nem me lembro o que é sofrer...
Hoje o amor mora comigo,
E cada dia mais eu vivo
Em estado de poesia!
(Rafael Oliveira, 08 de Setembro de 2014)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

E se eu me perder de mim?

E se eu me perder de mim? 
(Charmene Sopas Porto)



Doce, Família
 Ingrès e Monet
  Cântico dos Cânticos
   Palavra, I ching, fé
                                 Por onde ando
                                 Deixo rastros
                                 Para acertar o passo
                                 Se eu me perder de mim.
Rubem Alves, árvores/crônicas
 Fernando e Francisco, o Pessoa e o “Chico”
  Perdidamente Florbela Espanca
   Art Nouveau em René Lalique
                                  Por todo canto que passo
                                  Vou espalhando pistas sem fim
                                  Para encontrar meu rumo
                                  Se eu me perder de mim.
Pessoas, biografias
 Bolha de sabão, mar
  Gentileza gera gentileza
   O Rosa e Azul de Renoir
                                 Pra que eu possa retornar
                                 Vou esticando o fio, assim,
                                 Se algum dia, por descuido,
                                 Eu me perder de mim.
Pérolas, Vestido preto
 Light blue, Bandolins
  Chuva, Batom vermelho
   Sinos de vento, O beijo de Klimt
                                 Eu tenho medo do esquecimento,
                                 Da insanidade, enfim.
                                 De não saber qual o caminho
                                 Que me traga de volta a mim
A Beleza comovente
De Sabatella e Gagliasso
 Paris: meu e todo lugar
 Fotografia e filme
  Em branco e preto
   Ode à Alegria de Bach
                                 O que amo são partes
                                 Peças do quebra-cabeça que sou.
                                 Preciso de todas unidas,
                                 Senão...
                                 Não sou.

(publicado em 18 de outubro de 2013 no blog www.charmene.blogspot.com.br)


E a tatuagem no pênis ereto daquela moça de vestido amarelo

(Douglas Oliveira Tomaz)


Tomo banho de petróleo.
Escovo meus dentes com sangue.
Saio para a rua,
visto saia e uma camiseta do Suede.
Sou um homem.

Paro em qualquer boteco
encontro a decadência em sua forma humana:
homens velhos, rotos, desdentados
homens fedendo a cachaça
e tédio.
Vou para a cama com eles.
Sou uma mulher.

Nos meus longos cabelos crespos
mulheres de pênis encravam seus dedos sujos de pedreiros.
Dançamos ao som de tambores africanos após o sexo
como caboclos, prostitutas,
pretos velhos.

Perdoem toda a sujeira do quarto
 - gozo, cinza, vela, uísque, tabaco -
mas não perdoem a sujeira do poema
não há o que perdoar.

Somos seres sincréticos, diz o refrão
somos a conjunção, somos o
sexo,
o abismo
e o pulo.
Suicida é quem se define, diz a tatuagem no corpo do sujeito-sem-definição.
Somos a briga interminável, desritmada, sem controle
entre a leoa e o leão.

Saio do quarto apagado e te deixo sozinha
morta
esvaindo-se em goza.
Uso salto quinze
e tenho um braço entre minhas pernas.
As pessoas me olham.
A boca delas me dizem
eu quero.

E chove.

Quando era criança
eu era o x da questão
minha mãe me dizia é homem
meu pai me dizia é não.
Somente meu gato de estimação me entendia:
ele era preto com manchas brancas
e apesar de macho
era esguia
miava alto
fino
gemia.

Mas chove.

E a água salgada
- a chuva é doce -
retira minha maquiagem vermelha de homem,
transformando-me em quem.
Embaixo das camadas de base
há quem?
Quem é o meu próprio nome.

Continuo andando pela cidade
e já é noite
e as luzes se acendendo enquanto cai a escuridão
sempre me pareceu muito simbólico.
Somos seres sincréticos,
diz o refrão.
E a tatuagem no pênis ereto daquela moça com vestido amarelo
dizia:
sou não. 

(publicada em 27 de outubro de 2013 no blog abrigosdevagabundo.blogspot.com.br)


Cadeia da Injustiça




























Cadeia da Injustiça

Porque é preto: o preconceito.
Se já foi preso: é o suspeito.
Porque é 'bicha': ele tem AIDS.
Mora na rua: é marginal.
Porque é sem-terra: vira manchete.
Porque é índio: alguns o queimam.
Porque se dá: ela é puta.
Porque se vende: é prostituta.
Porque se guarda: é 'sapatão'.
Porque ele fuma: vai pra cadeia.
Porque ele bebe: vai pra sarjeta.
Porque ele é pobre: não tem padrinho.
Porque é à-toa: perde o caminho
e vai à merda... Por que é assim?
E vira 'preto', vira ladrão,
e vira 'bicha', mora na rua,
vira Sem-terra, índio assado,
e vira puta ou prostituta,
e vira freira ou 'sapatão',
e vira louco ou vira verme...
(Filho do Pai?) "Filho da mãe!"
E vai à merda... Por que é assim?
Porque é assim.

(do livro Luso-Fusco, 1999)