sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Lugar de LIVRO é na ...?

- "Nossa! Interessante! Já vi livro na escola, em livrarias, bibliotecas,... Livro em ônibus eu nunca vi!"
- "A gente pode levar pra casa?"
- "Pode. Não pode moço?!"
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Uma das experiências mais interessantes acontecidas no nosso projeto de Ocupação Literária foi o lançamento de dois livros de poemas de escritores do Clube.  
Nosso primeiro trabalho coletivo impresso.  Viagem Literária e Cardápio Literário
Ver os livros acontecerem foi uma felicidade enorme.  
Pensamos que o lançamento desses livros não poderia ser algo trivial
Então decidimos que os livros produzidos seriam lançados em lugares pouco convencionais.  
Afinal, lugar de livro é ...
  Clube literário tamboril
... no ônibus - fizemos o lançamento do livro Viagem Literária dentro dos ônibus urbanos que circulam em Pirapora e Buritizeiro.                                               
 ... e nos pontos de ônibus também!
 
... no restaurante - a poesia pode ser um ótimo digestivo. Por isso aproveitamos a hora do almoço para distribuirmos nosso Cardápio Literário no Restaurante Lá em Casa.
 
... na pizzaria -   surpreendemos os clientes da Pizzaria Dona Marieta com um menu cheio de versos para todos os gostos. Tivemos lá uma noite de autógrafos, pizza, boa prosa, abraços quentes, cerveja gelada.      
... na Feira - em meio a Feira de Artesanato de Pirapora realizamos um sarau diurno para lançar nosso Cardápio Literário.
Conseguimos distribuir mais de 1.000 livros durante a semana da Ocupação Literária.

O prazer de publicar um livro de poesia em conjunto com amigos foi ampliado pelo prazer de ver esses livros circulando, conquistando novos leitores, ocupando outros espaços para além das paredes das bibliotecas e das livrarias.
 
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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Sarau na praça

Em outros tempos podia-se assistir, aos pés dos coretos das cidades do interior, às pequenas bandas marciais que faziam soar, solenemente, as melodias típicas dos eventos cívicos que reuniam as famílias nas praças principais daquelas cidadezinhas.

Ainda hoje eles estão lá, os coretos das praças principais das cidades do interior. 

Mesmo que ignorados pelos nossos olhos apressados, resiste neles algo poético, um quê de nostalgia que, mesmo os que não viram as bandas marciais tocarem sobre os coretos, não sabemos explicar.

Em volta do Coreto da Praça dos Cariris, em Pirapora, tem acontecido uma retomada dos momentos de apreciação e vivência da cultura e da poesia que nasce das mãos e do intelecto do povo: todo sábado, pela manhã, o café típico da roça é servido pelas quitandeiras da Fazenda Paco Paco - sabor de casa de avó; ao mesmo tempo acontece a Feira de Artesanato, onde a gente encontra os artistas populares e suas preciosidades feitas à mão, contendo, cada peça, a marca própria de seu artífice.

E por que não inserir a literatura nesse contexto?

Foi o que fizemos: durante a Ocupação Literária, realizada em outubro, fizemos daquele o nosso lugar de encontro. Inauguramos, na Feira de Artesanato, a nossa Barraca Literária realizando um sarau diurno à sombra do Coreto da praça.

Teve música caipira, seresta, declamação e violino. Ao redor, abraços, cores, sabores, encontros, descobertas. Todo sábado, desde então, o ponto de encontro certo para quem quer conhecer um pouco sobre o que o Clube faz. Estamos por lá, próximos ao coreto, numa barraca colorida pelas cores do tecido de chitão, rodeados de livros e de amigos.

Toda cidade do interior tem uma praça principal. 
Toda praça principal tem um coreto. 
Todo coreto, poesia.
O poeta Edson Lopes faz leitura de seus poemas
Amigos Seresteiros
Anízia Caldeira
Dennis Cheqman e Ana Luíza
Douglas Tomaz lê "O Elefante" (Carlos Drummond de Andrade)
Félix Merica e Gabi 
Barraca Literária
Elaine Ramos e Carlos Roberto

* Fotos de Eder Salvador

domingo, 18 de outubro de 2015

Ocupação Literária - Sarau Radiofônico

Uma semana de Ocupação Literária nas cidades de Pirapora e Buritizeiro. Nossa proposta é fazer a poesia espraiar-se pelos quatro cantos das cidades! 
- Por onde começar?
 -Que tal lançar versos e canções pelas ondas da Rádio!?
- Eis!
Foi assim que aconteceu: reunidos nos estúdios da Rádio Pirapora, tivemos um Sarau Radiofônico com leituras, declamações, divagações poéticas, cantorias e risos.
Durante o sarau de sons, versos, melodias e tudo mais o que foi dito, o escritor Geraldo Santana valeu-se dos versos de Fernando Pessoa pra nos lembrar da poesia que está nos interstícios da canção.
"Cessa o teu canto!
Cessa, que, enquanto
O ouvi, ouvia
Uma outra voz
Como que vindo
Nos interstícios
Do brando encanto
Com que o teu canto
Vinha até nós.
Ouvi-te e ouvi-a
No mesmo tempo
E diferentes
Juntas a cantar.
E a melodia
Que não havia,
Se agora a lembro,
Faz-me chorar."

fotos: Alex Versiane


terça-feira, 1 de setembro de 2015

Sarau em noite de Super Lua




Quando combinamos de fazer um sarau na varanda do Adélio não imaginávamos que aquela seria uma noite de Super Lua (evento astronômico onde a lua cheia se encontra mais próxima da terra, e a vemos maior e mais brilhante). 
Suspeito que tenha sido o próprio anfitrião que, para nos presentear, encomendara a São Jorge um luar de prata polida, daqueles luares luzidios que são vistos no céu, sobre o cerrado, em noites quentes. 
Tudo naquele encontro estava de acordo com a beleza e o brilho da lua:
Um painel com a imagem do Buda iluminado recepcionava cada um de nós e serviu como cenário para as apresentações preparadas pelos convidados e pelo dono da casa. 
O Adélio foi quem abriu o sarau, com uma performance poética sobre o texto do espetáculo Brasileiro: profissão esperança, de Antônio Maria. O texto bem-humorado e inteligente ficou ainda mais interessante na apresentação do artista que vestiu-se de descobridor-arlequinal para nos dar as boas-vindas.


"Tem coisas que eu não entendo
Porque Brasil?
Sabem os senhores porque este país se chama Brasil?
Por causa do primeiro pau que Cabral avistou ao desembarcar aqui: o Pau-brasil.
E se esse primeiro pau não tivesse sido o Brasil? Se tivesse sido um pé de mandioca, por exemplo?
O cidadão para dizer que gosta da sua terra, teria que falar “Sou vidrado na Mandioca”.
A senhora, tão interessada no destino da nação, teria todo direito de dizer “Por isso que essa mandioca não levanta!”.
E, para fortuna, nossa Cabral não viu de cara uma mexerica, porque hoje teríamos uma nação de ‘Mexeriqueiros’!
Por esse critério, o do primeiro pau, o nosso país hoje poderia se chamar Pindoba, Mangaba, Aroeira, Jaqueira, Coqueiro, ou simplesmente Coco. Aliás, bonito nome para um país, não é? Coco! Só que, relações diplomáticas com a França, ‘jamé’!
E se Cabral tivesse visto de saída um pé de abacaxi? – Brasília, primeiro de janeiro de um ano qualquer. O presidente que sai, ao passar o governo ao presidente eleito, pronunciou as seguintes palavras: “Excelência, tenho a honra de passar o Abacaxi para vossas mãos".
Nós demos sorte! Hoje poderíamos ser ‘os goiabas’, ‘os abacates’, ‘os bananas’. Nós poderíamos ter o nome de uma fruta qualquer. Imagine, na Copa do Mundo, um placar como esse: Escócia 2 x Carambola 0. 
E, pra fortuna nossa, Cabral não viu de saída, um pau desconhecido, que ele só soubesse identificar por sinônimos. Se assim fosse, hoje, seríamos a República dos Estados Unidos do Cacete."  


"39 anos de batalha, sem descanso, na vida

19 anos, trapos juntos, com a mesma rapariga
9 bocas de criança para encher de comida
Mais de mil pingentes na família para dar guarida
Muita noite sem dormir na fila do INPS
Muita xepa sobre a mesa, coisa que já não estarrece
Todo dia um palhaço dizendo que Deus dos pobres nunca esquece
E um bilhete mal escrito
Que causou um certo interesse

"É que meu nome é
João do Amor Divino de Santana e Jesus
Já carreguei, num guento mais,
O peso dessa minha cruz"
Sentado lá no alto do edifício
Ele lembrou do seu menor
Chorou e, mesmo assim, achou que
O suicídio ainda era o melhor.
E o povo lá embaixo olhando o seu relógio
Exigia e cobrava a sua decisão
Saltou sem se benzer por entre aplausos e emoção
Desceu os 7 andares num silêncio de quem já morreu
Bateu no calçadão e de repente
Ele se mexeu
Sorriu e o aplauso em volta muito mais cresceu
João se levantou e recolheu a grana que a platéia deu
Agora ri da multidão executiva quando grita:
"Pula e morre, seu otário"
Pois como tantos outros brasileiros
É profissional de suicídio
E defende muito bem o seu salário"
(João do Amor Divino - Gonzaguinha)

Quem é de cantar, cantou: Gonzaguinha, Zeca Baleiro, Caetano Veloso, Chico Cesar, Adriana Calcanhoto, Tribalistas, Marcelo Camelo, Raul Seixas e outros compositores foram lembrados. 
Paulo Junio violou seu canto de capoeira acompanhado da percussão de Tuzin e das palmas da geral. 








Elaine recitou um texto do poeta barranqueiro Gardel. Como sempre falando coisas tão íntimas, tão próximas de todos ali no sarau.







“[...] O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.”
(trecho do poema O Homem; as Viagens, de Carlos Drummond de Andrade, lido por Douglas Tomaz)



"Já começa a beijar o meu pescoço
com sua boca meio gelada meio doce,
já começa a abrir-me seus braços
como se meu namorado fosse,
já começa a beijar a minha mão,
a morder-me devagar os dedos,
já começa a afugentar-me os medos
e dar cetim de pijama aos meus segredos.
Todo ano é assim:
vem ele com seus cajás, suas oferendas, suas quaresmeiras,
vem ele disposto a quebrar meus galhos
e a varrer minhas folhas secas.
Já começa a soprar minha nuca
com sua temperatura de macho,
já começa a acender meu facho
e dar frescor às minhas clareiras.
Já vem ele chegando com sua luz sem fronteiras,
seu discurso sedutor de renovação,
suas palavras coloridas,
e eu estou na sua mão.
(trecho do poema Ele, de Elisa Lucinda, recitado por Juliana Santos)

Seguiu luminoso o sarau sob a lua cheia: 
A doçura do violão e da voz de Gabi. Canções e histórias divertidas com Fathyô e Adélio. Uma reverência, em forma de poema, aos Catopês do Congado norte mineiro - momento em que Calyanne Gonçalves expressou em versos a emoção sentida nas Festas de Agosto, da cidade de Montes Claros. [...] E depois de embriagados da poesia e da luminosidade daquela noite, dançamos, rimos, cantamos juntos e celebramos o encontro.

Dia seguinte conferi no calendário, só por curiosidade, quando serão as próximas Super Luas.