segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A velha Senhora

A velha Senhora
(Emmanuel Costa Lima)

Solidão, do latim 'solitudo', 
Essa palavra de gosto acre
E de olhos arregalados.
Minha solidão é oceânica, marinha, abissal
Abre a boca e enche a casa com seu hálito quente
Destila veneno, é insolente e inaudível
Velha senhora de trajes elegantes
E riso dissimulado
Às vezes se cansa de mim
mas à mesa posta, retorna exata
À meia idade, ao meio dia
A tempo ainda de rir-me das primeiras rugas
E das mãos trêmulas a escrever versos mancos
Já lhe fui educado a pedir-lhe licença
Que fosse passear, abraçar outros amantes sem amores
Mas se faz de surda, de cega e muda
E me espeta na veia, me fere na carne
Entrega-me flores cravando os espinhos
Vamo-nos acostumando triste e docemente 
Um ao outro
Quixotescos, errantes, bizarros.
Entre retratos amarelados e moinhos de vento.
      Poema de Emmanuel Costa Lima

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