O acesso à arte, à literatura e à poesia é o que nos humaniza e nos torna aptos para compreender a nós mesmos e aos outros. O Clube Literário Tamboril desenvolve atividades de incentivo à leitura e à fruição artístico-literária. Assim, contribuímos para a democratização do acesso a cultura em Pirapora e Buritizeiro, cidades do norte de Minas Gerais.
domingo, 19 de julho de 2015
sábado, 18 de julho de 2015
Lançamento do livro Historinhas Integrais em Prosa e Verso
Um livro que nasce da parceria de um educador-poeta e seus alunos.
Em 2013 o escritor Edson Lopes ultrapassou as paredes da sala de aula e invadiu outros espaços da Escola Municipal Profª Maria Coeli Ribas: pátio, sombras de árvore, quintal, varandas.
Durante as suas aulas de literatura com os alunos da Educação em Tempo Integral daquela escola, percebeu que as crianças precisavam de tempo para conversar, contar algumas histórias, inventar outras, reinventar a realidade. Foi aí que brincadeiras simples como tentar encontrar formas conhecidas nas nuvens e desenhar personagens se tornaram lúdicos exercícios de crianção literária.
As aulas do professor Edson estimularam as alunos. As histórias das crianças inspiraram o poeta Edson. Juntos, fizeram surgir histórias em prosa e verso, todas elas reunidas em um livro para os pequeninos e para adultos que aprenderam a viajar nos versos e nos universos fantásticos da literatura.
Para lançar o seu livro, na última quarta-feira, o nosso amigo Edson contou com o Clube Literário, com seus alunos e colegas de trabalho da E.M. Profª Coeli Ribas para criarmos um sarau emocionante e alegre.
"E eis que de repente em algum lugar da casa: rec rec rec, rec rec rec
Que barulhinho é esse que a gente ouve?
Se fosse da barriga seria um ronco
Se fosse do sono seria um ronco
Que barulhinho é esse que tira a fome?
Que barulhinho é esse que tira o sono?
Vem de um ratinho que da casa quer ser dono
E: rec rec rec, rói a roupa do rei de Roma
rec rec rec, vai roendo todo mundo
rec rec rec, rói os trapos do plebeu
rec rec rec, xô ratinho vagabundo"
(Música: Peleja de Gente e Rato, de Edson Lopes. Inspirada na crônica "O ratinho curioso", de Fernando Sabino)
Douglas Tomaz recitando o texto
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Vandeilson declama o poema "Meu lápis" |
Meu lápis
Eu tenho um lápis que é bem doidão
olha pro caderno e lhe dá um rabiscão
Um lápis que só me causa problemas,
não faz o dever, só pensa em poemas.
O chato do lápis me envergonha assim:
escreve bilhetes de amor às meninas
e assina meu nome no fim
Durante toda aula desenha na carteira
Eta, lápis doido, só sabe fazer besteira!
Meu lápis é pretinho, pretinho cor de graxa
Quando ele atenta, eu xingo:
- Vá pastar nas mãos da borracha!
é qual fogueira sem lume
Perderia muito o ar
sem seu singular perfume"
sem seu singular perfume"
Douglas Tomaz recitando o texto
Um morcego diferente
Um dia, nasceu um morcego diferente em tudo, começando pelas órbitas dos olhos, que não eram vazias. Durante o nascimento, a mãe percebeu que o bebê não era cego. Nem tinha radar, pois andava esbarrando em tudo. Nem pendurava em árvores, para ficar de cabeça para baixo. Nem se alimentava de frutas ou de insetos. Toda vez que via sangue, o morcego desmaiava.
Coitadinho daquele morcego!
O pior foi quando a morcegada toda descobriu que ele não voava e, ao invés de asas, como algumas aves, tinha apenas pés de pato. Foi a maior gozação. O que era aquilo?
O morcego não era um bicho-preguiça, não era um cão, não era um gato, não era muito menos o Batman ou o Conde Drácula. O morcego não gostava da noite e tinha medo de crepúsculo.
O morcego, meu Deus, era um rascunho do rato que roeu a roupa do rei dos rotos.
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Geraldo Santana recita o poema Borboleta |
"Borboleta bole na folha, aboleta-se,
o que rola endossa o olor
Bela borboleta, ela, talo, folha, pétala,
raiz de lagarta, esboço de flor a voar
Quem te elabora, bela borboleta (?)
bola letra de poesia para brincar."
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Alunos do Edson e a Profª Ana Paula - performance |
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Rafael Oliveira - Leitura do texto "E Palhaço construiu sua casa de palha..." |
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O escritor Edson Lopes |
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Participação do músico e professor Lucas Pinheiro |
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Diretora da E.M. Coeli Ribas |
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Membros do Clube e equipe da E. M. Coeli Ribas |
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Grupo Baticundum |
terça-feira, 30 de junho de 2015
Opará
"Acreditar que o mundo do invisível é o mundo real.
Este aqui, que os olhos que a terra há de comer veem, este é ilusão.
Acreditar que alguém lá em cima gosta da gente, das flores, dos animais, das águas e das montanhas.
Ter fé em que a chuva vai chegar, o rio vai encher e o amor vai prevalecer."
- Patricia Pacini
Uma professora de história vem colher as memórias dos seresteiros que cantam às margens do São Francisco. Mergulha nas águas do velho rio e descobre seus mistérios, encantos, mitos e poentes.
Descobre que os seresteiros ainda cantam o amor. Mas é canto de voz embargada pela tristeza de quem pressente e teme a morte do rio-mar.
Ano depois a gente se reencontra pra assistir o documentário* que reúne as histórias dos seresteiros e lança um grito pedindo pela vida do rio. Na noite fria essa gente se reúne pra se aquecer em torno desse registro quente sobre pessoas e sobre um velho rio que passa diante de nós e dentro da noite.
Obrigado Patrícia Pacini por fotografar com delicadeza esse momento da história da seresta, da gente e do rio. O documentário e o livro revelam uma verdade incontestável: tudo isso é uma coisa só. Se morre o rio, morre a gente, morre o canto do seresteiro.
"São Romão fica bonita:
Festa de São Benedito
Congado a Nossa Senhora
É lá que se pesca o mandim,
O dourado e o surubim
Pra vender em Pirapora"
- Isaías Pereira Mourão
Êh, lá vai o Gaiola
Carregando em sua bagagem
Esperança e nostalgia
Sai de Pirapora
Seu destino é Juazeiro da Bahia
Sai do porto devagar
Pra saudade aumentar
Leva seu João e Maria
Junto com a mercadoria
Que vai para o Ceará
- Josessé Santos
"Boa noite!
Diga ao menos "boa noite"
abra ao menos a janela
hoje eu canto é pra você
Querida,
abra a janela, meu bem
A serenata que eu faço
é pra você e mais ninguém"
Música conhecida por grande parte dos seresteiros em todo o Brasil
_________________________
Sarau Seresteiro
A gente se reúne pra celebrar e agradecer. A música e a poesia servem pra aquecer o frio.
" ... a maltratada e rústica embarcação é o transporte de todo dia dessa gente - é o ônibus, o trem, o táxi, o burro, o carro, de motor ou de boi -, que a leva para casa singrando as águas do Velho Chico sob o divino e maravilhoso ocaso. O barquinho simples leva essa gente para casa depois da labuta do dia..."
(Patrícia Pacini - Opará - cantos, contos e encantos do Rio São Francisco)
Grupo Amigos Seresteiros de Pirapora e Clube Literário Tamboril |
Humildade
Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.
(Cora Coralina)
JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
(Carlos Drummond de Andrade)
* o documentário "Seresteiros do Rio São Francisco" e o livro "Opará - cantos, contos e encantos do Rio São Francisco" são resultados do projeto Seresteiros do Rio São Francisco.
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Não são as respostas que movem o mundo
"Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas" (Albert Einstein)
A última semana foi de questionamentos para o Clube Literário Tamboril:
- Afinal o que é o Clube? O que queremos que seja de agora em diante? Qual o nosso papel na comunidade?
Essas e outras perguntas que fizemos a nós próprios no nosso último encontro estão ainda ecoando no ar... tentaremos construir significados, continuamente. Isso é bom.
- O que é a literatura barranqueira? Existe uma literatura barranqueira? Quem produz essa literatura? A quem ela interessa?
Outras questões encheram o ar de interrogações. Dessa vez o ambiente foi uma sala de aula. Um varal com textos de escritores do Clube e outros, todos barranqueiros.
Os alunos degustando, descobrindo, se encantando. Interessados em saber mais sobre esse povo barranqueiro que escreve o que sente, o que pensa, o que vê, o que advinha, o que vive ou sonha.
Alguns de nós, do Clube, no meio da roda de conversa, ou roda de poesias, ou roda de perguntas e descobertas, nos permitimos, juntamente com esses jovens, questionar o quanto há em comum entre uns ou outros escritores barranqueiros (?) ou o que cada escritor acrescenta a esse universo que é a cultura ribeirinha do São Francisco.
Sabe o porquê destes questionamentos todos? Bem, para essa pergunta tivemos uma resposta definitiva:
- "Nós precisamos nos conhecer!", disse uma aluna durante a roda de conversa.
Precisamos nos conhecer.
A última semana foi de questionamentos para o Clube Literário Tamboril:
- Afinal o que é o Clube? O que queremos que seja de agora em diante? Qual o nosso papel na comunidade?
Essas e outras perguntas que fizemos a nós próprios no nosso último encontro estão ainda ecoando no ar... tentaremos construir significados, continuamente. Isso é bom.
- O que é a literatura barranqueira? Existe uma literatura barranqueira? Quem produz essa literatura? A quem ela interessa?
Outras questões encheram o ar de interrogações. Dessa vez o ambiente foi uma sala de aula. Um varal com textos de escritores do Clube e outros, todos barranqueiros.
Os alunos degustando, descobrindo, se encantando. Interessados em saber mais sobre esse povo barranqueiro que escreve o que sente, o que pensa, o que vê, o que advinha, o que vive ou sonha.
Alguns de nós, do Clube, no meio da roda de conversa, ou roda de poesias, ou roda de perguntas e descobertas, nos permitimos, juntamente com esses jovens, questionar o quanto há em comum entre uns ou outros escritores barranqueiros (?) ou o que cada escritor acrescenta a esse universo que é a cultura ribeirinha do São Francisco.
Sabe o porquê destes questionamentos todos? Bem, para essa pergunta tivemos uma resposta definitiva:
- "Nós precisamos nos conhecer!", disse uma aluna durante a roda de conversa.
Precisamos nos conhecer.
sexta-feira, 17 de abril de 2015
Dóris Álvares
À tua espera
(Dóris Álvares)
Quando o silêncio for um doce afago
das coisas lindas que não sei dizer
Quando esta alma que no peito trago
for poema demais pra eu conter...
Quando o meu mundo for, talvez, um céu
um pedaço de céu azul e lindo
Quando o meu verso salpicado ao léu
qual garoa de flores caindo
Quando eu me sentir assim num riso leve
Tão doce e puro, e simples e feliz
De tal maneira que não se descreve
no mais belo dos versos que fiz...
Quando eu colher ao longo do caminho
os momentos de luz e de esplendor
Façam silêncio, falem bem baixinho
Eu te encontrarei e tu seras AMOR!
_______________
Canção de minha gente
(Dóris Álvares)
Canta o rio e lentamente vai rumando para o mar
Em seu barco, um barqueiro vai remando a cantar:
"Rumo ao mar dessas tristezas já não posso mais remar
ôÔ, Sinhô!
ôô, Sinhá!
O barqueiro nasceu pobre, de que vale se queixar?"
E bem junto à cachoeira, num constante murmurar,
Lavadeira vai lavando sua roupa a cantar:
"Lavo as mágoas de minh'alma, já não posso mais chorar!
ôÔ, Sinhô!
ôô, Sinhá!
Lavadeira nasceu pobre, de que vale se queixar?"
Morre o dia, nasce a noite, vem a aurora a despontar
Pescador, lançando a rede, passa as horas a cantar:
"Lanço a rede, colho pranto, já não posso mais lutar!
ôÔ, Sinhô!
ôô, Sinhá!
Pescador já nasceu pobre, de que vale se queixar?"
Velho Rio, se eu te canto, tu também sabes cantar
E ensinaste a minha gente a sofrer sem lamentar
Tu que cantas, velho Rio, me ensinaste a não chorar!
ôÔ, Sinhô!
ôô, Sinhá!
Minha gente nasceu pobre, de que vale se queixar?
________________
Baile
(Dóris
Álvares)
Orquestra
de risos
de
sonhos e guizos
perdidos
no ar!
E
a vida cantando,
cantando
e valsando
E
o mundo a bailar!
Acendem-se
as velas
de
estrelas tão belas
dos
mil candelabros
suspensos
no céu...
E a vida cantando,
cantando
e valsando
Fazendo
escarcéu!
Sereno
caindo...
fininho...
fininho...
Enchendo
de vinho
de
orvalho a flor.
E
a vida cantando,
cantando
e valsando
nos
braços do amor.
A
brisa que passa,
tão
cheia de graça,
servindo
carícias
na
sua baixela.
E
a vida cantando,
cantando
e valsando
tão
doce e tão bela!
Já
é madrugada...
já
o dia se fez...
a
tarde passou...
é
noite outra vez!
E
o mundo a bailar
E
a vida cantando,
cantando
e valsando
sem
jamais parar!
Dirás
que é loucura
dirás
que é mentira
Que
canta essa lira
um
sonho falaz
Mas,
tranquilamente,
Direi
tão somente:
Ama,
e verás!
domingo, 12 de abril de 2015
domingo, 5 de abril de 2015
Acordando Sonhos
Grande Geraldo Santana lançando mais um livro. Acordando Sonhos é o segundo livro do Geraldo. Textos cheios de inquietações e delicadezas. Um prazer para o Clube participar desse momento tão especial.
"ficar velho é o momento da transparência. cai a ilusão da força e ocorre
o reencontro com a serenidade da criança a que a vida nos convida
permanentemente a ser. não há tempo a perder. só nos resta o olhar poético, a
coisa completa, a intensidade do momento intrínseco. é comer o sabor dos
morangos, dos caquis, das mangas, das laranjas, da seriguela, das melancias...
sentindo-os.
é sonhar nas alegrias e nas
utopias dos sonhadores, o muito amar enquanto acenamos o adeus de uma beleza
que se adentra o crepúsculo de cores de um sol que se põe em instantes.
no compasso silencioso da tarde
do tempo que morde a vida
sem nada dizer
e se vai...
adentrando o espaço
onde a beleza e a tristeza se tocam
e o coração
desejante
a indiferença animal vertical
e a vida é mistério
sei que ela é o presente belo
que se dá e se vai."
(trecho do texto "Ser Velho", do livro Acordando Sonhos)
(trecho do texto "Ser Velho", do livro Acordando Sonhos)
como um campo solitário (ausente)
os homens da cidade (modernos)
finalmente cansados
de tanta monotonia
de tanta loucura.
param ( ) sem querer
com medo de perder.
amanhã novamente
pernas e mãos
rápidas como as formigas.
sem tempo
ajuntando os galhos rendidos
como renda de sua insidiosa devastação."(trecho do texto "O destino das evoluções", do livro Acordando Sonhos)
"na vida se a gente não se sentir amado e não amar a gente sofre. e se a gente
amar a gente sofre também porque cada abraço, cada beijo, cada presença, cada
sorriso é, em si, o anuncio de uma despedida, de um adeus porque o amor é
sacramento e não pode ser transformado em monumento. não terei mais aquele
beijo da amada, aquela presença, aquele sorriso, aquele abraço transcendente do
meu filho, não mais ouvirei a sua voz dizendo: papai, eu te amo até a lua, o
que me emociona. choro e me desespero porque o tempo passa sem dizer nada. ai
eu busco mais um e mais outro abraço, vou ao seu encontro, telefono.,.,
ouço a sua voz delicada serena e bela. e me apaixono, quero agarrá-la, ela
me ilumina e se vai... com a alma cheia de dor da saudade, pego a caneta e
escrevo, sou arte, transformo a dor em palavras para suavizar a saudade porque
“a vida é um hiato fantástico de amor entre o nascer e o
morrer”.
quando te vi radiante
rosto sereno, belo, fascinante
alegria pura, simples e dourada
eu te amei.
amei em ti aquela imagem fugidia
infinitamente feliz na beleza que
partia
hoje, vazio, vivo na saudade."
(trecho do texto "Sobre o amor II", do livro Acordando Sonhos)
(trecho do texto "Sobre o amor II", do livro Acordando Sonhos)
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